28.7.05

Espera

Parada na porta do restaurante. Andando de um lado a outro. Detestava esperar. Não estava ali mais do que cinco minutos, mas a agonia aumentava.

Atravessa a rua. Cigarro. Cigarro. Se queria parar de fumar, era melhor comprar a varejo... A barraquinha era a solução.

Uma “moça” compra balinhas. Uma mendiga pede centavos para alguma coisa inaudível... Uma fileira informal de “moças” se estende ao longo da rua.

Nem bem comprou o cigarro avulso e o vendedor gritou: “Bora, vamo trabalhar aí... Circulando, circulando...”. Ótimo. Um ambulante cafetão. A diversidade da Lapa... “E eu aqui...” – pensou, já acendendo o cigarro.

Esperando again na porta do bar, mendiga pedindo trocados – “será que estou ficando louca? Isso já aconteceu...”; pensou em como tudo havia começado. Tinha saído de casa no dia anterior, por volta das sete horas, logo depois da visita “inesperada” de um “amigo”.

Em pouco tempo, estava cercada de amigos queridos, jogando papo para o ar, em Copacabana. Uma garrafa de tequila from Mexico. Herradura. Sal, limão. Papo, papo, papo... Uma garrafa de cachaça. 51 mesmo.

Ao longo das semanas de esbórnia, a variedade do bar estava ficando inversamente proporcional aos porres... Papo, papo, papo e.... lá foram à praia.

E como isso acontecia? Logo eram muitos... Dos 4 iniciais, o grupo já estava multiplicado até ilustres desconhecidos. Hotel. Mais garrafa de cachaça, mais outra... Inglês, português, embriaguez...

Gente se exercitando na praia, em todos os sentidos. Banho de mar. Conversas e pássaros cantando... Intermináveis segundos loucos. Mais gente, mais gente. Dá um dois, pega a nota, pega o fósforo, queima idéias, atordoa lembranças...

Piscou os olhos e o dia está lindo... O sol está nascendo. Uma maravilhosa praia. Da multidão para os quatro, para o quarto; só risos. Acende mais alguns cigarros e lá tinham ido dois maços numa só noite...

Abre os olhos. Quantos momentos passaram??? Em horas, ela não sabia... Trabalho, que trabalho??? Quem, quando...

Vamos agitar, agitar. To get up. Voltar às origens. À praia novamente. Será que ela se enganou; tinha mesmo ido no hotel??? Surrounding... Lá estava o inglês...

Tinham comido alguma coisa? Sabe lá... Bebe, bebe, bebe. “Não, não falo italiano”. Fuma mais. So funny. Muitos momentos e “vamos ver um filme?” – perguntou o amigo.

Piscou os olhos e já era noite. Nove horas. Dogville no desejo, na TV; real life outside... É hora de voltar para a casa. Todos até o ponto. Ela pensa: “que casa, para qual casa eu vou? Está, ok...”. Era melhor ir para o apartamento, tinha que pegar o carro de qualquer jeito...

Toca o celular dela. “E aí, qual a boa da night?”. “Não sei, na verdade, eu estava indo para casa”. “Você está onde?”. “Em Copacabana.”. “Está ‘afins’ de beber, tô saindo agora”. “Putis, eu ainda não consegui voltar pra casa...”. “Vamos então...”. Suspira e pergunta: “Onde?”. “Na Lapa, naquele bar de sempre”.

E lá estava ela esperando... Mais alguns copos de vida “confraternizada”...

20.7.05

Feliz Dia do Amigo!!!

[ Gripe, cansaço, aniversários, shows, trabalho... enfim... Desculpem o meu sumiço de novo... Este texto de hoje vai para homenagear os amigos, sem os quais não existimos. Aqueles, de todas as horas - as tristes e as boas, mesmo quando não encontramos os amigos há séculos... Quando precisamos, os verdadeiros amigos sempre estão por perto!!! ]


Recordatio: Duplo Soneto de Maricá



Natureza tão sábia
Tão sublime.
Pragmatista em nossas vidas.
Aquilo que, usual, brincamos de ver.

Trouxe o vinho nas divinas uvas.
Suco fermentado de maçã; sidra.
Como Natureza, não se deve encanar. Solte a mente.
Lá vem cana. De açúcar. Agüardente, gente!

Momentos que passam. Vão e vêm.
Moinhos de saudade, fez ventar,
faz cachaça, fez sabor, faz lembrar.

E da cevada? A cerveja esperada.
Do cacau, o chocolate, nada igual!
Trigal, o pão nosso de cada dia; trigo trivial...

Natureza tão sábia.
Tão sublime.
Chove quando é preciso nascer.
Providência divina para germinar o milagre da paz.

Trouxe o frescor. A maresia.
Água para todos, quem diria...
Sem arco-íris; Colorido de instantes.
Uivar da garoa; sua voz, Natureza.

Momentos que passam.Vão e vêm.
Não se remoer; só emoção.
O resto é “cafezinho”...

Memoriae. Palavras em metonímias e metáforas.
Quanto mais eu pense, só resta agradecer.
A vocês e à Natureza.

5.7.05

O fabuloso mundo das crianças...

Ele, seis anos, parado, no meio da sala. O padrasto desce as escadas.

- Filhinho, papi quer falar uma coisa. Senta aqui.
- Tá.
- Sempre que você acabar de brincar, você arruma o seu quarto, ok?
- Tá.


Almoço. Todos quietos. O pequeno se manifesta.

- Papi, Renato falou uma coisa no colégio que eu não sei se entendi...
- O que ele falou, filho?
- Ele falou “cu”... O que é isso?
- Hum... Bem.... É o que todos usamos para ir ao banheiro...
- Ah....eu pensei que fosse pescoço....mas pescoço a gente não usa para ir ao banheiro...
- De uma certa maneira, você está certo. “Cou” é pescoço, mas em francês... Você lembra das suas aulas?


A criança não responde e continua comendo, pensando. Todos vão ver tv e ele, quieto. Horas depois, o pequeno se manifesta:

- Papi, vamos brincar?
- Claro, filho.
- Você sou eu e eu sou você, tá?
- Ok. E aí?
- “Então, você já brincou, vai arrumar seu quarto”...


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Noite seguinte, festa na casa da avó paterna. Preparativos. Bolsas. Festa e farnel. Logo está a família toda reunida. Pai, padrasto, filho, mãe, avós, primos, madrinhas e padrinhos, amigos... A vó começa a brincar com o netinho e pergunta:

- Meu fofinho, você gostaria de ter um irmãozinho?
O pequeno grita, eufórico:
- Sim, quero, quero, quero!!!
Silêncio. A curiosidade da avó persiste:
- Mas você acha que vai ganhar um irmãozinho da sua mãe ou do seu pai?
- Ora, vovó... Da mamãe, claro! Meu pai não tem namorada...

Desconcertada, a avó continua:
- E você, cadê a namoradinha?
Ele faz cara de pensativo e permanece calado.
- Vovó já sabe, você vai namorar a filha da Tia Valeria, quando ela crescer, né?
- Ih, Vó... Claro que não! Quando o filho da titia crescer, eu já vou ser adolescente...


Papo sim, papo não. Muita comida. Volta para casa. Padrasto, mãe e filho no carro. No céu, um verdadeiro “espetáculo” da Natureza.

- Olha, Amor, que lua linda. Ela está amarela!
- É, está linda mesmo.

O filho faz cara de desdém e afirma:
- Nos meus tempos, a lua era branca.
- Como assim, filho? Você tem seis anos. Você não sabe o que está falando... – diz a mãe sorrindo.
- Claro que sei. Quando eu era pequeno, a lua era branca. Agora?! Não sei não...




[E que as luas de vocês sejam brancas, amarelas e de todas as cores...]

2.7.05

Morrer

Ter a sua sombra uma espada prestes a escorregar,
cravando como um punhal.
O peso dos sonhos e medos.
A ânsia do tempo.
A surpresa da infinidade de alguns segundos.
O inesperado temido.
Simples certeza - daí tanto pavor.