29.9.09

Não adianta....

Não adianta. A memória vai fundo no esverdeado dos seus olhos, na dúvida estampada no seu rosto, no corpo, solto, tímido, amando e sendo amado. No toque rente de seus dedos, deslizando, carinhosamente, pelo meu corpo entregue. Suas mãos fortes, puxando meu rosto, roubando um beijo que já era dado. Seu corpo grande, belo, esguio, seu contorno, na janela, na luz de sonhos que ainda estão – talvez - por vir. Esse sorriso que escapa, tímido, e vem para mim sem resistir, no segundo antes de pensar e temer. Não adianta. Eu me lembro do seu cheiro, seu gosto. Não é mais uma memória ou sonho, é real. É paixão, é loucura. É seriedade no reflexo e no medo dos seus olhos. É passado e é futuro no silêncio do que você não declara.

Não adianta, eu quase vejo seu rosto iluminado de espontaneidade, antes do pensamento, antes da prudência, antes do cuidado. Eu quase ouço sua risada feliz, seu sorriso, no segundo que antecede a ruga na testa e a realidade para aterrorizar. Eu me lembro dos movimentos tímidos e frenéticos, alternadamente, no compasso da paixão, ainda que fugaz, instantânea. Naquele segundo que brilha, no agora não imaginado, aquele, aquele, aquele gozo.


“A vida ardia sem explicação.... não tem explicação, explicação.....”
Segundo Sol, Nando Reis, mas prefiro na voz da Cássia Eller......

23.9.09

Cuidado.....

Cuidado demais impede os caminhos. Incerteza protege de vida, de êxtase, da liberdade de sentir. Ela pensava naquele sorriso e ficava assim, inerte, desejo congelado em memória ausente de vida.

Sem fome, sem sono, rindo pelos cantos. Olhava para a tela do computador e via a imagem refletida, mexendo nos cabelos, sorrindo a timidez que a encantava. Ui, ui, no carro, enfrentava o engarrafamento, pensando nos beijos, nos abraços, enredar-se no corpo dele, perder-se em carinhos. Ia cantarolando todas as frases de amor que explodiam dentro dela. Sorriso estampado na alma, olhar fixo; seu rosto, seu olhar, seus lábios. Fechava os olhos e simplesmente viajava. Não havia mais tempo, distância, só o instante feliz. Frases ecoavam, procurava os gostos dele só para agradá-lo, mimá-lo e enchê-lo de carinho......

Desde os mais primórdios, “o que fazer” (e o que não fazer...) deve ter assombrado a humanidade que tenta ser humana. Justa. Fiel à polissemia de atitudes em discursos existentes ou não.

Relação é fato, é lista de coisas, dependência, ligação, conhecimento, amizade, trato, envolvimento sexual... uma série de coisas. Se não há nada disso, em tese, não há relação. Mas se há sentimento sem ligação, sem dependência, sem conexão, sem lista, sem sexo, sem trato, querendo ter tudo isso junto, ao mesmo tempo, ontem??? Uma relação, talvez. Mas, para isso, são necessários, dois corpos ardentes, duas mentes sonhadoras no mesmo momento, planos para vir, sem ausência, sem silêncio, maldito carrasco de sentimentos......... Onde está você agora que não aqui, dentro de mim????

15.9.09

Personagens não sabem o que pedem

Todos os dias, Layla lembrava da solidão. Levantava de manhã, cantando, sorrindo, na esperança que o dia a surpreendesse com um amor de "verdade". Cortava os cabelos, dançava, ensaiava os melhores sorrisos. E era, naturalmente, envolvente. Por onde passava, era um rastro de olhares, não vistos, não percebidos pela sonhadora.

Espalhava aos quatros cantos a busca pela metade, pela parte do encaixe, pelo outro lado da cama, para dormir, abraçado, grudado, amor à flor da pele. Assistia aos filmes na televisão, torcia pelos casais da novela e pensava, sofria, 'quando iria encontrar esse novo amor, sumido, distante, que a deixava na solidão'?

Um belo dia, encontrou um rapaz, mais novo, mas bastante obstinado. Ele se encantou, de cara, com a força daquele olhar, com a voracidade das palavras que o devoravam, mesmo quando não ditas. Ele se encantou com o ar desligado da moça, na flor da idade do século XXI. Ele se encantou com o sorriso, de lado, meio que escondendo toda sua força. Ele se encantou com a energia, pronta para ser sugada, dividida, explodida em amor.

Pensativa, cheia de vigor, ela não o via. Continuava, indiferente. Era impossível que ela não o percebesse. Ele, ali, entregue, apaixonado, doido para preencher os espaços vazios. Doido para se redimir do passado e se entregar, de vez. Pronto para o tal amor de verdade, sem problemas, sem poréns. Sem dramas. Ele estava ali, nunca tão consciente de si mesmo, nunca tão aberto, nunca tão flagrante, nunca tão sem juízo, sem cuidado, sem passado. O nunca do presente; sem igual...

Pediu, chamou, disse com todas as letras que queria escrever. De amor, de paz, de construção. Mas só ficou o vazio. O silêncio. E, então, ele se lembrou do passado, da dor, do desamor. Lá se foi, sem olhar para trás; deixando apenas as palavras abandonadas de promessa. Layla voltou para o ex-marido.

7.9.09

Fragmentos

Apenas alguns fragmentos na estranha lógica de um personagem....

Festas de final de semana. Bailes; essa palavra ainda existe? Brincadeiras no sítio. Corridas, piques, gatos sumindo.... carnaval no clube. Sorveteria em Black Point....primos, amigos, linda infância. Sambinha na Federal. Black Night. Universidade do Chopp. Segóvia?!?!?! Matinê da NY. Pranchas de desenho e auto-cad.... Luaus em copa: SESC!!! Oficina do Samba em VP... Excentric!!! Churrascos em Bangu. Bunker!!! Farras, da Praça Quinze até a Happy Hour do Rio Centro com "the lawyer"... Computadores em Botafogo, diretamente para IACS. Fundição. Saudosa Lapa, pé-sujo com sinuca. Rastros e caminhos. Choppadas. Amigos de faculdade. Churrascos na Tá com televisões voando e chá de sumiço. Cuquinha sacudindo na Grajaú-Jpa. Deitar na mesa de trabalho, tarde da noite.... Ai, meu lindo Rio e saudosa Nickity. Danças na chuva. Conversas até de manhã. Cachorro para passear. Bar de doidões. Sapatos perdidos. Ônibus com entrada diferente. Jantares em Pinheiros. Pimentas na Lapa. Sesc Pompéia. Com tênis, homem não entra na disco.... E Matrix!!! O Bexiga, ai, ai, ai. Alguma coisa acontece no meu coração... Castelinho da Fio, roxo de novidade. Festas juninas. Garoto manteiga, que saudade! E o moço do pé calçado, o outro sem meia. Aninha, aprendi a dizer não...às vezes....risadas com Babs, conversas com Mano e muita festa com sr e sra V Rocha. Container!!!Rastros de novo. Com botas e tombos em pontes. Ônibus de dois andares. Uísque com red bull. Drinks vermelhos. Gongos batendo, pubs fechando. Albergues e casinha de porta amarela na estrada da memória...sem fim..... saudade de Rick milk shake..... Recreio lindo. Praia da Macumba. Grumari. Ai, que pôr do sol. Deitada na pedra. Restaurantes, caronas de moto. Carro quase caindo na reserva. E o saudoso Kananga do Hilos, era assim que escrevia? Quem nunca comeu carne de côco, come cinco, olhando a praia... dedos do pé, apaixonados, brincando na areia. Cabaninhas; oh, malandragem, dá um tempo.... pousadas, escadas, tantas fases.... Eu lembro do onze de perdido.... das festas insanas, das pipocas sacanas... Mezcal no instante, botas intermitentes, festas com fadas azuis na loucura de "promover a paz mundial"... na varanda, seu olho azul. Castanho. Verde kriptonita..... Branco, moreno. Cabelos lisos. Escuros. Tudo permeado por carteiras perdidas, garrafas vazias e cigarros.... amigos caídos ali, mas já não era na "p de praia de maricá".... não, Danizinha, não beba mais. Não, Danizinha, não esqueça mais... Prédio alto. Segurança para entrar. Francês, charmoso, ao pé do ouvido. Aussie, aussie, aussie. Cangurus, pernas e liberdade. Coalas e lindos gambás. Barracas, amigos, amigos, amigos; melting pot.... salsa sexta-feira. Valley. Fringe bar.....The Victory, dear M. A casa das festas....one more try, dear Joe. Acomodação mil estrelas. Aconchegos no carro. Coração aportando em Saint Lucia. Às vezes, saudades.... my babies....Copacabana essa semana, princesinha do mar..... varandas... rodízio de japonês. Todo dia, uma festa, uma visita, um país; algum eu. Paraty, mais uma vez, logo ali. Na carona da lembrança, dos amigos. E lembra do Incrível Hulk, passaporte para Austrália... Muda de elevador, muda de estado, mais uma vez. Brasília, tempo de seca, tempo de viver, mudar, voltar a ser sério para variar.....para então ser louco e lembrar cada fragmento que nos leva em frente, Mana, para, de novo, mudar.............. Ainda bem.