13.3.18

Alucinações de bar?

Personagem parado à porta da livraria. A amiga ia só comprar um livro. Personagem queria comprar vários, mas, na falta de tempo de ler, resolveu desistir. Disse que ia esperar ali; entretanto, imaginando a demora, resolveu pegar uma mesa e ficar no bar. Logo, o papo começa: um grupo de argentinos, outros, moradores de Brasília, uma família de Petrópolis. Bem típico de festas em cidades pequenas, ainda mais uma cidade charmosa, histórica, como Paraty.

Uma meia hora depois, cansada de esperar, resolve ligar para amiga, a dúvida era: pedir uma cerveja, ou não (continuar esperando sem comer ou beber, não dava, nem o papo estava adiantando). Pessoal animado aquele de Petrópolis, já estavam convidando para o almoço, a cerveja... Nem bem sacou o telefone para sanar a dúvida e a amiga apareceu. Como iam tentar almoçar em outro restaurante - Thai food  para variar, simplesmente levantou e foi ao banheiro.

Quando voltou, só ouviu as gargalhadas. O moço da mesa ao lado indagou: "quer me matar de susto?". Ficou na dúvida do porquê. Ele explicou que havia olhado para o lado um segundo e quando voltou o olhar, assustado, perguntou à amiga: "você trocou de camisa?". A amiga do personagem nada entendeu. O indivíduo olhou o copo à frente e afirmou: "eu só bebi uma cerveja"!. Aí, por instantes, pensou se tratar de algum espírito das antigas, piratas, escravos etc e tal, que tivesse aparecido, conversado e sumido... Até que a amiga do personagem entendeu o imbróglio e disse que não havia trocado de camisa, mas sim de lugar com a amiga que estava ali antes e havia ido ao banheiro...

5.9.17

Viagem... aos 70...

Viagem cansativa. Indo e vindo ao banheiro, na carona das cervejas, na praia, do almoço... Entre um cochilo e outro, a parada principal não chegava. Finalmente, um sanduba e o esticar das pernas. Logo estaria no Rio de Janeiro para outra viagem até a Barra da Tijuca.

Na rodoviária, já perfeitamente acordada, a personagem coloca a mochila nas costas e vai para o ponto final. É tarde e o ônibus está vazio. Senta perto da janela e deixa a mala no banco ao lado. Lá pelas tantas, na praça Saens Peña, mesmo com um ônibus vazio, uma senhora senta ao lado, toda desajeitada, com as pernas para fora, quase por cima da mala dela. Com preguiça de argumentar que vários lugares estavam vazios no ônibus e sem querer deixar a senhora desconfortável, pede para trocar de lugar. A senhora fica na janela e ela, com as pernas para fora, ainda meio cansada da viagem.

A ideia era ficar quieta, ao longo do caminho. Entretanto, ao sugerir que a senhorinha fosse para janela, virou bate-papo. A senhorinha, magra, alta, calça bem justa, salto alto, blusa de oncinha, diz que acabou de pegar o Rio Card idoso. Sacode o cartão tão freneticamente que a personagem sugere que ela guarde, para não perdê-lo. O bafo de cachaça da senhora, que declara ter 70 anos, quase a derruba.

Senhorinha continua falando, enrolado,  tinha ido a uma festa, na Tijuca, mas aí, ao ir embora, encontrou esse senhor, ele insistiu em pagar mais uma bebida, queria que ela ficasse lá, estava preocupada com a hora. O tal homem era dono de uma loja, tentou levá-la para o segundo andar. Estava interessado nela e queria namorar. "Mas eu não quero namorar ele não". Contou como o enganou, indo ao ponto e pegando rapidamente o ônibus. "Este é o ônibus tal, né". Era. E ela ainda trabalhava, disse que iria acordar cedo para trabalhar no dia seguinte. Falou, falou, falou, por uns 20 minutos. Depois cansou e ficou olhando a rua, balbuciando coisas incompreensíveis e rindo. Cochilou.

Lá pelas tantas, acordou, olhou para outra personagem e perguntou: "este ônibus vai para onde?". Para Barra. "ah, meu Deus...". Resmungou mais algumas coisas incompreensíveis e perguntou de novo. Aí foi a explicação de que o ônibus iria para Barra e a pergunta sobre onde ela queria ir, dizendo que estavam no Alto da Boa Vista.  "Alto da Boa Vista? Ai, que bom, estava olhando e não estava vendo nada, esqueci os meus óculos".

A senhora ri mais um pouco e pede: "pode me avisar quando for o Bingo 10?".  A personagem pergunta onde é. "Bingo 10, ali, na descida". A outra não fazia ideia.  Outra pergunta e a senhorinha pede: "é só me avisar". Preocupada, ai, meu Deus, como a personagem saberia dizer onde a senhora deveria saltar.... Outra pergunta e ela diz, depois da Gávea, de Furnas.

Personagem prestando atenção, enquanto ela ri, feliz: "ai, a Floresta da Tijuca, agora sim, estou no caminho certo".  "Este ônibus vai para onde mesmo?". Personagem repete e confirma onde ela tem de descer, mas a senhora reconhece antes e levanta. Personagem sai do caminho para ela passar, mas ela não faz sinal para descer, vai correndo para o motorista, gritando, "Bingo 10, motorista, vou saltar aí, Bingo 10, por favor, por favor", tropeçando no salto, rindo e arrastando as bolsas de supermercado. Antes de descer, dá um tapinha nas costas da personagem e sai cantarolando...

17.7.17

Esquecimentos...



Já tinha marcado de encontrar um amigo e foi se arrastando. Cabeça nas nuvens. Sonhos revirados. Deveres e  prazeres misturados. De todo jeito. Amores trocados. Entre tantas confusões, lá se foi o guarda-chuva. Enquanto espera, parado, na praça, o amigo liga e ele pergunta onde pode comprar outro, porque a previsão é de temporal. Na papelaria. Remarcam, então, na porta da papelaria.

Lá vai o personagem. Entra quieto e pede à atendente um guarda-chuva. O mais barato, porque vive perdendo...  A moça, nos seus 20 anos, dá uma olhada nos produtos e fala: "tem esse, R$ 8, está bom?". Ele diz que sim. Ela embrulha o guarda-chuva e ele se apressa em pegar a carteira na sacola. De repente, ainda comentando sobre o guarda-chuva perdido, diz: "inclusive, o guarda-chuva que eu perdi era igual a esse aqui em cima, foi esse que você trouxe?". Incrédula, a atendente o olha, um pouco sem graça e diz: "não, você o retirou da sacola agora". O personagem, também perdido, comenta que não lembrava nem que o tinha colocado lá, achava que tinha perdido e nem sabia, de verdade, que cabia na sacola...... Pede, desconcertado, desculpas e para cancelar a compra...

Sai da papelaria rindo, pensando que a atendente o deve ter achado louco. Fica esperando pelo amigo exatamente em frente. Mas se distrai e quando percebe, o amigo já está dentro da papelaria o procurando. Ele não quer entrar, então olha, tentando chamar o amigo discretamente, mas é a atendente que olha, por detrás, acena, rindo, e pergunta: "esqueceu alguma coisa?".

#fim

#meiodesligado

25.6.17

Sensibilidade

"Adulto" triste. Criança chega, na maior agitação, mal olha para as pessoas ao redor. Sai correndo para varanda. Alegria total, pega um brinquedo, corre em volta da mesa, olha o céu, busca o cachorro. O adulto fica parado, sentado, só observando.

A criança é destemida, bastante agitada e brincalhona. Na semana anterior, já tinha caído acidentalmente e batido com a cabeça. É preciso observá-la, para que a criança não resolva escalar nada ou se atirar onde não deve. Agora, todas as vezes que quase se machucava, estendia as mãos ao rosto, no "doi doi".

Correndo de um lado para o outro, de repente, a criança se dá conta de que não está sozinha. Larga os brinquedos e olha fixamente para o adulto, ainda sentado, quieto, ainda triste, só observando.  A criança caminha, então, intrigada, em direção ao adulto, com a testa franzida.

Para a mais ou menos um metro, olha fixamente para o adulto e estende as mãos até a cabeça, no "doi doi". Incrédulo, o adulto entende que a criança, de 14 meses, está perguntando se ele está machucado. Depois da "pergunta", ela se aproxima, dá um abraço, enquanto o adulto tira os óculos e enxuga a lágrima saliente.

E a criança sai correndo de novo, para brincar e ser feliz. Porque tudo é assim na vida. Os contrastes. Tristezas somente para preceder novas alegrias.



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A criança, depois, fica estirada na cama, envolta em brinquedos, enquanto o adulto tenta, inutilmente, ler. Daqui a pouco, aponta para as folhas bagunçadas e repete "a, e, i, o, u". Mal sabe ela...

21.6.17

O mundo vai acabar...e ela só quer dançar....

Personagem angustiado. Espera, espera, espera.
Para quê? Pelo quê? Não há nada falado.
É tudo o mesmo, igual, não há instante.
Surpresa porvir. O telefone toca.
É um outro convite. Ele nem pensou. Nem quer.
É a surpresa impossível que arde. Tem trabalho para fazer.
Tem trabalho para entregar. Que o personagem quer receber.
O tempo arrasta e a tela não muda. Cabeça parece máquina antiga.
Mesma tecla, repetida. Repetida. Repetida.
O telefone toca de novo. Sábado passado, à noite, à espreita. Nem quer.
O trabalho para entregar. Não termina. E a tela não muda.
Personagem angustiado. Espera, espera, espera.
Amigos, amigos, amigos, convites, luzes, outros personagens.
É hora de dançar. Veste alma. Veste vermelho. Express yourself.
Sapato alto. Todos os apetrechos. Os eus de viagens. Todos a reboque.
Uma, duas, três. Todas as memórias outra vez. O rosto que lembra.
Outra história. Outro samba. Outros fonemas. O rosto que cerca.
Outros amigos, outras festas, outros perigos. O rosto igual. Gêmeo memória.
Mesmo nome. Metade revival, metade "incesto". Outro convite. Outra noite.
Diversos outros corpos. Copos. E outra fase. E outro papo. E a memória....
Personagem angustiado. Para quê? Pelo quê? Não há nada falado.
Fecha os olhos e apenas lembra. Vermelho. Luz. Varandas e pensamentos.
Libertinagem. Beijos liberdade. Beijos sem amanhã. Mais uma música para cantar.

"Porque o mundo vai acabar  e ela só quer dançar.... o mundo vai acabar...
Ela só quer dançar, dançar, dançar".....


4.5.17

2 meses. 2 meses. 2 meses. Umas seis vezes....

2 meses. Férias. 2 meses. África. 2 meses. Aniversário. O início de um novo ciclo. Se as coisas continuam sacudidas no mundo, melhor o personagem revirar a pele de dentro para fora e respirar alegria interior.

Concentração. Sempre uma questão, novamente, com o perdão das pobres rimas... Personagem envolto em mídias e redes sociais de desilusão. Do pior do ser humano. Da direita, ultra... ultra entristecedora.

Meses de silêncio. O problema não é a falta de pensamentos. Dizeres. Voz. Falta mesmo de crença nesse estranho "porvir atual"... O estagnar em uma cidade, ainda que no eterno sonho, ainda que por escolha, é angustiante. Personagem Hermes, acordado; mensagem de devaneio aos deuses pulsando...

Concentração. Sempre uma questão. Tem África. Tem Colômbia. Tem Rio. Tem Rio. Tem rio de indecisões e saudades. Tem surpresa. Mas tem corda bamba para sacudir a tão certa espontaneidade, no sopro, no limite da ética, tão auto-cultuada. Personagem atônito, congelado.

"Saudade é despedida
Morrer um dia vem
Mas amar é profundo
E nele sempre cabem de vez
Todos os verbos do mundo
E nele sempre cabem de vez (...)"



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Entre Mary Shelley, Bowler, Lobo, Bardin, janelas e mais janelas, mas o som vem lá do corredor. Ecoa o tia, tia, tia. E lá vai o personagem, aberto em sorrisos. De absorto em pensamentos a encontrado em risadas. Gargalhadas sem fim. Corre aqui, corre para lá. Esconde ao lado. Papel no chão é engraçado. Espelho em si, no passado, logo ali, parado, de frente. Corre aqui, corre para lá. Esconde. Dá risada. Personagem escolha. Parar temporariamente não é para parar. Não para esse personagem.

Estende os bracinhos e não há espaço para mais nada... Só gargalhadas entre um par de olhos profundos de um futuro cheio de esperança.

31.5.16

Tudo ao mesmo tempo agora, ontem e quiçá amanhã...


Agora, eu entendo flores e tapa na cara.
E o que nunca retorna.
Sempre a distância. De um país.
Outro país. Mais outro. Quase uma vida.

Uma visão embaçada.
O tempo que passa.
De uma mesma paisagem conturbada.
São só lágrimas de decepção e decepção.

Einstein. Diferentes. Realidades. Concomitantes.
Decepcionantes. O que não é o mesmo. Mas é igual.
É triste. É um exílio em si mesmo.

Tantas bocas. Tantas promessas. Palavras vazias.
Cheias de promessas. No esteio de viagens e viagens.
De realidade, de sonho, passado e futuro.