Ele chega ao trabalho sentindo um leve incômodo no pé direito. Logo se lembra de um copo quebrado no dia anterior que, achou, não tinha causado mais infortúnios. Como tem todo o dia pela frente e está sem cartão do plano de saúde, na hora do almoço, resolve ir, pela primeira vez,ao Posto de Atendimento do organismo de saúde, em Brasília, onde trabalha.
Chega, ainda no corredor, e pergunta onde pode ser atendido, afirmando que, talvez, tenha um caco de vidro no pé. Uma simpática senhora pede que ele se encaminhe ao atendimento, “depois da garrafa d´água”.
Ele entra, narra, novamente, a história do copo quebrado, do caco de vidro que talvez tenha ficado no pé dele etc. Uma senhora, calmamente, pergunta se tem ficha de atendimento. Responde que não. Ela pergunta se ele nunca foi atendido lá. “Só vacina”, responde ele. Ela o encaminha ao atendimento, de volta à entrada, para fazer ficha.
Lá vai ele, mancando. Balcão de atendimento: onde trabalha; qual o ramal; endereço; vínculo; qual a sigla de onde trabalha.... Responde.
É, então, encaminhado para a enfermagem, novamente. Ele senta, ela pede seu telefone, data de nascimento. Responde. Começa tirando a pressão dele; ótima. É então enviado para a médica, mais para frente no corredor. Ele chega lá!
Três trabalhadores para serem atendidos. Os dois entram, ele aguarda. A moça do atendimento pede para ele se manifestar, caso a médica termine de atender o paciente, porque ela vai almoçar. Tranquilo.
Daqui a pouco, sai o paciente e ele entra. A médica olha a ficha, recém-feita, pergunta o que ele está sentindo. Conta mais uma vez. Então, ela começa a procurar um livro “o código tem de ser preenchido corretamente”. “Vidro, né?”. “Pé direito, no dedo?”. Responde. Ela procura o tal código no livro. Ela rabisca o papel, carimba e diz que vai levá-lo para as enfermeiras porque não pode ajudar. Não olhou o pé dele.
Ele é levado de volta para a sala das enfermeiras. Elas cochicham alguma coisa, a enfermeira diz que também não pode ajudá-lo em nada, se ele não está vendo o vidro, ela também não pode ajudar: “não tenho lupa”. Médica e enfermeia discutem um pouco, amistosamente. Chegam à conclusão de que é melhor ele ir para o atendimento do plano de saúde dele, porque a emergência do plano poderá ajudar...
Enquanto elas ainda discutem, meia hora depois, ele agradece e diz que vai realmente procurar o plano de saúde. Ninguém olhou o pé dele. E ele achou melhor nem pedir, afinal, “elas não podiam ajudar mesmo”. Mas a pressão dele está boa!
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