Consegue imaginar um quarto? Fechado. As paredes são brancas, mas a luz é daquelas meio amarelas. O reflexo é terrível, aspecto sujo. Como se o ar fosse um misto de fumaça. Não há muito a ver. O quarto está vazio, embora seja comprido.
Por vezes, dá para brincar de identificar imagens na parede. Seriam leões? Carneiros? Ou seriam morcegos? Mas, então, é só apertar os olhos para ver que são manchas.
Lá do outro lado da imensidão, há uma janela. Nem alta, nem baixa. Nem larga, nem estreita. O suficiente para ser vista. De qualquer quina. O exterior pode ser tudo. A imaginação pulsante. O rio e sua energia correndo em diferentes rumos. As árvores, frondosas, espalhando vida para todo lado. Como um oásis mental. Símbolos de liberdade e contentamento.
Porém a caminhada até a janela é infinita. Quanto mais passos, ainda que largos, mais distante a miragem. Penumbra na alma encarcerada. Agora é tempo de futuro...
“Não existe nada vivo
Dentro desse quarto
Todo dia eu pego o medo
Meço, mato e guardo
Num cansaço calmo de sobreviver
Cantar pra subir
Descer e dar uma banda...”
(Um dia na vida, Cazuza)
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