3.10.05

Cheiro de Morte

No ar, só sangue. Aquele cheiro de restos. Um breve piscar de olhos trazia aos ouvidos o gemido.

Uma dor profunda, quase um pedido de socorro. Um medo e um desnorteio. A tentativa de fuga. A sensação do embrulho no estômago e, de repente, aquele abandono. Como quem chora e desiste. Pronto, ali estava. Podia fazer o que quisesse com ele.

Dele, só a carne, só fisiologia, porque o espírito tinha voado numa lamúria sem dono. Depois, era só a matéria; vil, suja. Olhos esbugalhados, fixos, fitando aqueles que prejulgava como algozes; carapuça da raça-humana. E ali ficou, deitado. Nem água, nem comida, nem descanso, nem sonhos, nem vida.

Os olhos perdidos iam perseguindo, sem dó, nem perdão. E, por todo lado, era só sangue, era só aquele, aquele gemido. Eufemismo de morte, no rastro de liberdade...

Tigre, Tigre, Tigre; que assim seja!

2 comentários:

Laura_Diz disse...

Menina, que bom conto. Vc é boa mesmo!
Anda nostálgica,triste...
Um bj,laura

Anônimo disse...

Muito bom mesmo. Impressionante como vc consegue transformar temas tão pesados em algo tão bonito...bj