25.6.17

Sensibilidade

"Adulto" triste. Criança chega, na maior agitação, mal olha para as pessoas ao redor. Sai correndo para varanda. Alegria total, pega um brinquedo, corre em volta da mesa, olha o céu, busca o cachorro. O adulto fica parado, sentado, só observando.

A criança é destemida, bastante agitada e brincalhona. Na semana anterior, já tinha caído acidentalmente e batido com a cabeça. É preciso observá-la, para que a criança não resolva escalar nada ou se atirar onde não deve. Agora, todas as vezes que quase se machucava, estendia as mãos ao rosto, no "doi doi".

Correndo de um lado para o outro, de repente, a criança se dá conta de que não está sozinha. Larga os brinquedos e olha fixamente para o adulto, ainda sentado, quieto, ainda triste, só observando.  A criança caminha, então, intrigada, em direção ao adulto, com a testa franzida.

Para a mais ou menos um metro, olha fixamente para o adulto e estende as mãos até a cabeça, no "doi doi". Incrédulo, o adulto entende que a criança, de 14 meses, está perguntando se ele está machucado. Depois da "pergunta", ela se aproxima, dá um abraço, enquanto o adulto tira os óculos e enxuga a lágrima saliente.

E a criança sai correndo de novo, para brincar e ser feliz. Porque tudo é assim na vida. Os contrastes. Tristezas somente para preceder novas alegrias.



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A criança, depois, fica estirada na cama, envolta em brinquedos, enquanto o adulto tenta, inutilmente, ler. Daqui a pouco, aponta para as folhas bagunçadas e repete "a, e, i, o, u". Mal sabe ela...

21.6.17

O mundo vai acabar...e ela só quer dançar....

Personagem angustiado. Espera, espera, espera.
Para quê? Pelo quê? Não há nada falado.
É tudo o mesmo, igual, não há instante.
Surpresa porvir. O telefone toca.
É um outro convite. Ele nem pensou. Nem quer.
É a surpresa impossível que arde. Tem trabalho para fazer.
Tem trabalho para entregar. Que o personagem quer receber.
O tempo arrasta e a tela não muda. Cabeça parece máquina antiga.
Mesma tecla, repetida. Repetida. Repetida.
O telefone toca de novo. Sábado passado, à noite, à espreita. Nem quer.
O trabalho para entregar. Não termina. E a tela não muda.
Personagem angustiado. Espera, espera, espera.
Amigos, amigos, amigos, convites, luzes, outros personagens.
É hora de dançar. Veste alma. Veste vermelho. Express yourself.
Sapato alto. Todos os apetrechos. Os eus de viagens. Todos a reboque.
Uma, duas, três. Todas as memórias outra vez. O rosto que lembra.
Outra história. Outro samba. Outros fonemas. O rosto que cerca.
Outros amigos, outras festas, outros perigos. O rosto igual. Gêmeo memória.
Mesmo nome. Metade revival, metade "incesto". Outro convite. Outra noite.
Diversos outros corpos. Copos. E outra fase. E outro papo. E a memória....
Personagem angustiado. Para quê? Pelo quê? Não há nada falado.
Fecha os olhos e apenas lembra. Vermelho. Luz. Varandas e pensamentos.
Libertinagem. Beijos liberdade. Beijos sem amanhã. Mais uma música para cantar.

"Porque o mundo vai acabar  e ela só quer dançar.... o mundo vai acabar...
Ela só quer dançar, dançar, dançar".....