22.8.09

Doente de rotina: já vem um novo amor....

Piores que qualquer restrição física são os arreios na alma. Quando limitamos nossa existência a uma simples verdade, a um horário forjado e reforçado na história da industrialização, a estruturas políticas e sociais que ajudam a organizar nosso bagunçado instinto.

Todos os dias, nossas vidas são invadidas por doentes de cotidiano que brigam pela última vaga no estacionamento, que xingam no sinal, que maximizam as nêuras dos atos repetidos e que explodem em idiossincrasias políticas, de vaidade.

Oh, no, Lord...
Dê força para os que se levantam, no motim de sentimentos, para proferir palavras rudes e agressivas, sustentar suas imagens, com as quais se preocupam tanto, parecem defender a própria vida.... Para que reflitam...

Os anos passam, as rugas chegam, o corpo falha, as cidades mudam; as experiências explodem. Com sorte. Mais sorte ainda os que têm a habilidade e o privilégio de manter a memória viva: os preciosos amigos. Mas há os que arrastam a personalidade, incapazes de mudar a vírgula de lugar, porque "assim tem de ser", porque "assim eu disse que seria", porque "assim é a minha vida". Não que se deva condenar, porém, difícil compreender quem se acostuma com o ruim, quem se acomoda no mais ou menos, quem se resigna a uma existência mais submissa, quase nula.

Cada céu é um horizonte. Cada pôr-do-sol é uma mensagem de um milagre. Da vida, tudo tão lindo que nos cerca, da Natureza, pronta para evoluir, para vencer as situações desafiadoras, para ultrapassar qualquer limite. Inexplicável, mutável, admirável. Ao olhar as ondas do mar, não há cotidiano, mesmo que sejam ondas.... Há volumes, cores, velocidades, tudo diferente, em um conjunto e contexto diferente. A Natureza não se permite estagnação. Há destruição, terremoto, mas há muita energia e as placas tectônicas se acomodam... Chove sem parar e que linda a atmosfera, que “voluptuosos” os rios, os mares, as nascentes, quase de pura vida...

Há tanta poesia ao redor que o cotidiano não deveria ser tão maçante, destruidor. Em frente a nossas máquinas, com desktops de realidade, nos mundos paralelos que desculpam nossa existência de regras sem sentido, perdemos a noção.... O todo é para sustentar algo que não se sabe, não se pensa, nem se quer ou não; só é, só existe. Os intuitos se perdem em caminhos tortuosos, em labirintos que, novamente, auto-justificam todas as loucas lógicas que se cruzam, que se batem, que se ignoram, em verdades de culturas diferentes.

Não, não. Esse personagem é quase, mas não é anarquista. Ele admira a beleza do mesmo amor, ele entende a facilidade da estrutura, contudo, menospreza o automático, a perda dos próprios propósitos. Insiste que, no erro, na mudança, no diferente, é que os seres são confrontados com mil questionamentos para mudar, para melhorar, para exercer a liberdade de escolher. Se é tudo assim mesmo, não há escolha, não há vida, há repetição, há acomodação. Esse personagem sabe admirar a escolha já feita, a felicidade já acomodada, mas que, sempre, sempre, pode ser mudada, aperfeiçoada, salvo em criaturas aprisionadas em si mesmas, sem alma, sem personalidade, sem “existência real”, sem um amor que os mova na direção dos ideais, naquele instante de gozo que vale a vida inteira!

Romântico demais talvez. Crédulo exagerado talvez. Antes o virtuosismo otimista que o rancoroso eu, ego inflado e inflamado em escancarado egoísmo. Sem religião, cheio de amor, o personagem ainda pede perdão, "eles não sabem o que fazem...”. Nem pelo que fazem, tampouco como fazer.... Oh, humanidade perdida em conceitos, preconceitos e vaidades.... Vergonha as nossas, personagens, fazer o quê, simples e boçais humanos.....

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