11.8.09

Memória...

Memória; entre os mistérios inerentes ao corpo humano, algo fascinante. Uma música, uma simples música pode te remeter a outro país, quase como uma viagem ao passado. Uma música pode trazer o corpo de outro alguém, pode trazer o cheiro, o gosto, quase a experiência de reviver um amor.

Como em cadeia, um elo de emoções, as memórias flutuam, sem convite, sem ordem lógica, trazendo, de volta à vida, uma série de acontecimentos passados que a pessoa nem julgava lembrar. Um almoço, uma festa, um delicado momento a dois perdido no tempo.

Serão todas as memórias "eufemistas"? Vêm momentos felizes, momentos únicos, momentos prontos para serem lembrados. Não importam todos os estranhos contextos nos quais eles estiveram inseridos, a memória apaga e traz aquela peça do quebra-cabeça com a foto mais bonita, mais intrigante.

Interessante que, ao olhar para trás, seja possível lembrar um episódio adolescente, de um grupo de amigos, pulando a cerca, literalmente, para assistir a um show. E de quem era o show? Ninguém faz a menor ideia. Exemplo clássico de como opera a memória. Perfunctórias fases da vida explodem significado, quando aliadas a uma pessoa, a um lugar, a uma personalidade específica.

Difícil dizer quais meandros da realidade ficam impressos por meio dessa temperamental escritora-memória, que arranca algumas páginas, liberando espaço para uma existência feliz, por vezes, repleta dos mesmos erros atirados ao vento.

É como uma chuva fina, insistente, que acompanha, que transborda emoções, esfria o corpo e aquece a alma, às vezes mais forte, muitas vezes sutil, num fenônemo que pode ser belo, quase poético, quando conjugado com nuvens e idílicos cenários imaginados, ou pode ser uma torrencial tempestade de questionamentos e reconstrução pessoal.

Pode ser a chuva fina na varanda de um hotel, café da manhã romântico esperando, pode ser a viagem turística, o atoleiro na lama, pode ser a corrida no meio da tempestade, cantando aos berros qualquer música simbólica, ou mesmo a reflexão, em frente ao computador, com os olhos voando pela janela, na carona de um espírito livre que já voou e se perdeu muito. Ainda bem...

"Não tenho mais nada senão meu passado. Mas ele não é mais nem felicidade nem orgulho: é um enigma, uma angústia. Queria arrancar sua verdade. Mas pode-se fiar na própria memória? Eu esqueci muito, e parece que às vezes, mesmo, eu reformo os fatos".*

A mulher desiludida, Simone de Beauvoir*

Nenhum comentário: