31.1.05

O Fim das Ilusões

Na tristeza, este personagem se lembrava daquelas maravilhosas aulas de história, o início das viagens. Pelo tempo, pela cultura, pela descoberta. Forçava a memória para lembrar dos fatos, das brincadeiras. Inutilmente tentando extravasar...

Camuflava a mente com a quebra da bolsa de Nova Iorque. A crise de 1929. Mas por que lembrar disto em meio a uma crise existencial? Destas que só um grande amor é capaz de provocar... Simples como um capítulo...

No livro de história, a lembrança era ‘O fim das ilusões’. E aquele título ficava bailando, agressivo, dando tapas e mais tapas numa face crédula, alma entregue.

Também beirando os trinta, bem poderia ser o rótulo da vida naquele instante: “e aos 29 com o retorno de saturno, decidi começar a viver...quando você deixou de me amar, aprendi a perdoar e pedir perdão”*.

Ele acreditava, mas não seguia. Nem o amor, nem o sentimento, nem aquela dolorida certeza, nunca dantes sentida, que o perseguia todos os dias, sussurando, “vai”, “vai”, “vai”.

Ele, logo ele, que sempre arriscara, que sempre vivera, pagara para ver... Encontrava-se, agora, amarrado ao medo; antiga mola propulsora... Medo de magoar aquele alguém tão especial, medo de não fazer feliz, medo de não lhe proporcionar o mundo... Medo, medo, medo. Congelado. Congelado. Congelado.

Todos os dias enlouquecia, refletindo, se a maturidade emocional seria, enfim, abdicar de tudo, inclusive de viver um amor, para não modificar a vida de alguém. Ou seria a responsabilidade emocional que enfim chegava??? No fim, achava que se o rio corresse, seria só correnteza e natureza esplêndida. Mas, a ele, competia reclusão, assim pensava...

Enquanto a ‘certeza’ chamava, o medo não deixava declarar. E escapar aos lábios... “Porque os problemas seriam grandes, não tinha sequer o direito de interferir, ou influenciar em prol desta escolha...”, conjecturava.

Ou seria só um reflexo da dificuldade de decisões? Desta vez, era tão sério que a decisão não poderia vir dele, Senhor das Decisões... Em nenhum aspecto. Nem para desertar, nem para enlouquecer no cotidiano não sonhado. Ironicamente lhe cabia parcimômia de sentimentos e omissão...

E assim o personagem seguia. Enganando o coração que o Amor estava ali. Distante. Não concretizado. Mas ali ficaria. Como a infância não perdida, que fica na memória com uma pureza sem igual.

Até que, um dia, ele percebeu que o Amor fora voraz. Em duas pessoas, tinha devorado cada vértice e unido todos os pontos num infinito que virou o sonho de um momento; tudo derretido, mas o ápice não veio. Nem os sonhos vieram, já frustrada qualquer expectativa, mesmo impensada. Total. O fim das ilusões. Maculada, porém, não foi a lembrança... Essa sim, eterna...

“(...)embriaguei, morrendo 29 vezes, estou aprendendo a viver sem você, já que você não me quer mais(...)”*.

*Legião Urbana - Vinte e Nove

2 comentários:

Anônimo disse...

O fim das ilusões - ou de qq outro sentimento - não me parece tão fácil e nem tão simples. Acho que até para o fim existe um começo. O começo do fim. E o fim mesmo só se dá quando outra ilusão - ou outro sentimento - toma conta dos nossos pensamentos. E então, é o recomeço. De novo e mais uma vez.
Bjos. Michelle.

Unknown disse...

só temos que pensar que estamos aqui, porque pensar que não estamos?
a maturidade...anda que anda, passa que passa...e mais ninguem nos agarra-..
apeteceu-me