1.9.05

Inércia

Ao entrar no carro, mosquitos para todo lado. Um calor infernal. O prenúncio do verão. Malas no bagageiro. CDs esquecidos. Melhor seguir o rumo.

Algumas ruas, muitos carros. No cruzamento, esquerda ou em frente? Melhor esquerda. Todos os caminhos engarrafados, de qualquer maneira...

No final da rua, um sinal rápido. E a fila não anda... Bad choice. Bad choice.

Paulo Ricardo depressivo no rádio. Finalmente a vez; chegando ao sinal e virando para a direita. Entrei enviesada, o trânsito estava obstruído, não dava para ir mais com o carro.

Na confusão de automóveis, oriundos de todos os lados, meu olhar cruzou o dela. Ela estava num gol branco, que entrou ‘por fora’ do meu carro. Não sei quantos anos devia ter. O rosto era bonito e envelhecido. Magro. Dolorido. Parei, desconcertada.

Era um olhar pesado, triste. Numa fração de tudo ou nada, invadiu minha alma. Nunca havia visto a mulher na vida, mas tive o ímpeto de sorrir, dar um bombom. Porém, não tinha doces na bolsa e talvez ela não pudesse comer isso. No mesmo fugaz, porém interminável instante, corri os olhos pelo carro. Pensei em dar o meu boneco cachorro, que tanto amo, de olhos azuis, sempre balançando a cabeça, como quem canta uma animada canção...

Nestes longos segundos, o carro dela cruzou pela esquerda e sumiu no engarrafamento, na não fileira de carros paralelos. Ainda passei por alguns carros parecidos, 'mergulhei' a cabeça, para ver se encontrava, no banco do carona, aquela cabeça amarelada, raspada, provavelmente de quimioterapia. Nada vi...

E aquela angústia, num olhar tão penetrante, embora rápido, perseguiu-me por mais 40 minutos de engarrafamento.

Ela passou, deixou-me perplexa e levou sua dor. Nada pude fazer. É a impotência, a todo momento...

Um comentário:

Laura_Diz disse...

Danizinha, que lindo e comovente . Adorei, um bj laura