9.9.05

Maré

Será que um dia vou me lembrar?
Dos rostos que não fazem sentido.
Das vozes que não saem, perdidas.
Dos textos que não soube ler.

Do tempo que não seguiu.
Das palavras que passaram direto.
Do canto de lucidez.
E da verdade soprada aos prantos...

Será que um dia vou me esquecer?
Do destino que se foi.
Do corpo que se transformou.
E até do pó. Sem explicações...

Do gesto que não houve.
E da viagem que fez retornar.
Do doce amargo de certas vidas.
E do sonho esquecido ao nascer na praia.

Enxuga este piano de dentes.
Cada um, memória errante . Vacilante?
Não deixa a lágrima transbordar da mente.
Ópio enlouquecedor de melodias.

Raspa, recorta. Atira.
Fecha a porta. Resiste.
Até o resquício do fim. Para cima. Para baixo.
Mexendo para todo lado...

Nem sempre é tempo.
Ou paciência.
Nem único...

Um comentário:

Laura_Diz disse...

Forte, bonito. bj laura